segunda-feira, 25 de março de 2019

Insista. Persista. Não desista.

Gabriel sofreu muito na escola.
Eu sempre dizia:
- Não liga o que os outros falam.
- Você é um menino de ouro.
- Se a pessoa não quer ser seu amigo, não tem problema, você encontrará outros que querem.

Sempre o motivei o máximo.
Tentava de tudo para melhorar a sua auto estima.
E nada funcionava.

Eu falava que todo mundo tinha uma dificuldade.
Cada um tinha um defeito.
E que o defeito podia ser perfeito também.

Ele sempre dizia:
- Você não entende.
- Você não sabe.

E perguntava:
- Então me explica, por favor, me explica o que você sente.

Ele explicava que não deixavam brincar
Ele falava que riam dele por não entender
Ele gritava que não conseguia.

Por mais argumento,
Por mais solução que eu dava
Ele dizia: você não entende.
Ninguém entende.
Eu não consigo.

Gabriel foi no psicologo
Passou em diversos.
Odiava ir.

Sua irmã não o entendia porque ele não gostava.
Ela dizia: Gabriel é tão legal a psicologa, a gente só brinca.
Ele: Então vai você. Não gosto que fiquem olhando. Não sou estranho. Sou normal.

Com o tempo o Gabriel parou de falar sobre os problemas.
Não porque tinha terminado.
Porque ele tinha a certeza que eu não ia ajudá-lo
E também não queria me ver chorar.

Ele dizia: Não vou te contar, você não vai me ajudar e vai chorar escondido.

Eu não sabia o que fazer.
Mas, continuamos na luta e andado a deriva.
Mudamos o Gabriel de escola.
Começou a pratica de esporte, o beisebol
Nana ajudava como podia na escola e no dia a dia.
Continuava na fono.
Treinava na casa do amigão.
Fazia terapia com o psicologo.
Os amigos do beisebol o incentivava
Fazia aula particular
Realizava terapia de acupuntura.
Fez “n” coisas ao mesmo tempo.
E, mesmo assim se sentia só.
incompreendido
E achava o estranho.

Muitas vezes eu pensava em desistir.
Deixá-lo no seu mundinho.
Fugir dos problemas.
E facilitar a sua vida.

Seria mais fácil.
Ahhhh... seria muito mais fácil.

Mas, nós não podíamos abandoná-lo.
Tínhamos que continuar remando.
Mesmo sem saber para onde os sentimentos e pensamento do Gabriel caminhavam.

E um belo dia, eu percebi que ele tinha se fortalecido.
Não que as pessoas pararam de rir dele.
Continuam achando que ele é bobo, burro e estranho.
Mas, isso não machuca tanto.

Eu não sei o que melhorou.
Se foi a psicologa
Se foi o amigão
Ou qual “n” atividades que ele fez.
Só sei que melhorou.

E foi quanto tempo?
1 semana?
1 mês?
Não.
Foram anos.
Anos de lutas.

Nós como pais temos que tentar.
Temos que insistir.
Não podemos desistir.
Mesmo não surtindo efeito naquele momento.
Uma hora eles melhoram....

E se não melhorar?

Insista.
Persista
Não desista, mesmo que seja mais fácil.

quinta-feira, 7 de março de 2019

O nome do pai


Eu não me lembro quantos anos o Gabriel tinha.
Eu acredito com 7 ou 8 anos.

Ele voltou para casa triste.
E mostrou uma prova, tinha tirado 1.
Um dos exercícios era: Escreva o nome da sua mãe e do seu pai.

Ele escreveu: Mamãe Tris e Papai Rebiti
Tinha um X enorme na questão.

No dia seguinte, fui questionar a professora.
Eu: Ele escreveu certo mamãe e papai. Não tinha que considerar meio certo?
Ela:As crianças nesta idade tem que saber escrever o nome dos pais.
Eu: Mas, nunca fizemos nenhum exercício com os nomes dos pais. E Gabriel tem DPAC, a compreensão dele é diferente da nossa.
Ela: Se você nunca ensinou, não tenho culpa.

Sai arrasada de lá.
Tinha tanta coisa para ensinar.
Nunca tinha passado na minha cabeça que pediriam os nomes dos pais em uma prova.

E porque estou contando isso?
Gabriel fará 18 anos este ano.
E pela internet fez o alistamento militar.

E fomos preenchendo as informações solicitadas.
Nome, data de nascimento, RG, CPF, endereço
Algumas informações ele sabia,
Outras eu falava.

E um certo momento chegou:
Nome da mãe – ok
Nome do pai – ele pensou, digitou, apagou, digitou de novo. E perguntou:

Gabriel: Como escreve o nome do pai?
Eu: Com H
Gabriel: Hebeti
Eu: Não Gabriel, T é mudo.
Gabriel: O que é um T mudo? O T fala?
Eu: Não Gabriel, é o T sem a vogal i
Gabriel: Ahhh, não era melhor falar T sem a vogal do que T que não fala?
Eu: Faltaram dois R no nome, depois do E
Gabriel: Dois R?
Eu: Depois do E
Gabriel: Herrbet
Eu: Não
Gabriel: Você disse dois R depois do E.
Eu: Desculpa. Tem R depois do E.
Gabriel: Escreve aqui.
Eu: H E R B E R T
Gabriel: Porque escolheram um nome tão difícil
Eu: Acho que era para complicar a vida nossa.

Fiquei pensando......
Mais de 10 anos depois
Somente agora que eu ensinei como escreve o nome do pai.
Realmente a culpa foi minha.
Devia ter ensinado antes

Enfim.... nunca é tarde para aprender e ensinar.....