terça-feira, 23 de abril de 2013

Eles não tem depressão, mas adoecem também.


Quando o Gabriel entrou em depressão porque descobriu que era diferente dos outros, que entendeu que os amigos riam da cara dele, que o chamavam de gordo, quatro olhos, e de dente metálico, ele ficou muito mal. E, foi para o psicólogo.

A cura não vem de um dia para outro. Leva tempo. Tem que ter paciência. Tem dias bons e dias ruins.
Este dia a dia de altos e baixos não é fácil para quem cuida. Você sempre incentivando, compreendendo, sempre na dúvida se é para dar bronca ou não, sempre, sempre com o sentimento de que toda a hora você esta pisando em ovos.

Eu, saia para trabalhar, ficava o dia inteiro fora, quando voltava, era um caos, era complicado, eu ainda tinha a fuga de ficar fora de dia, mas mesmo assim eu sofri.

Já a avó do Gabriel ficava com ele a tarde e até o começo da noite. Tinha a missão de levá-lo para fazer terapia com a fono e com a psicóloga. E quantas vezes ele não estava afim de ir para terapia, chorava, fazia birra, se atirava no chão, teve uma vez que ele estava com tanto ódio de estar na fono, que deu um soco na mesa dela que quebrou. Minha mãe não sabia onde enfiar a cara.

E fora que tanto ela como eu, não sabíamos como ajudar o Gabriel com o problema dele de DPAC, por mais que a gente se desdobrava a explicar as lição, a formar frase, a fazer conta, o Gabriel não entendia, ficava irritado, era um caos.

A avó do Gabriel começou a ficar doente, começou a sentir o peso de cuidar do Gabriel. Ela também precisava ir para psicóloga para tirar o sentimento de culpa de não ser capaz de entender e de ajudar o seu neto. Deveria ter incentivado a minha mãe a procurar um psicólogo, para tirar este sentimento de culpa, de impotência, mas eu não o fiz.

Na verdade, não fiz nada, nem eu sabia, nem tinha ideia do que fazer e por onde começar. Chegar na casa da minha mãe e ver ela triste, o Gabriel chorando e a Nath com a cara: mãe faz algo? Era um terror. Eu simplesmente chorava por não conseguir fazer nada para ajudar as três pessoas que mais amo neste mundo.


Hoje, todos estão bem.
Superamos! Conseguimos dar a volta por cima!
Mas, podíamos ter sofrido menos
Então eu acredito que todos os integrantes de uma família que fica envolvido com uma criança com depressão, precisa sim passar em tratamento médico.
Pode parecer besteira, mas quem ajuda uma pessoa, precisa ser ajudada também, não dá, não tem como resolver sozinho sem ficar doente também.
Eu e a avó do Gabriel adoecemos tanto psicologicamente quanto fisicamente: ficamos nervosas, chatas, irritadas, ansiosas e tristes e envelhecemos muito.

Eu, a avó não tínhamos depressão, mas adoecemos junto também.

2 comentários:

  1. É verdade, Cris! É massacrador… Sei bem o que você viveu.

    No meu caso, a vida e o caos se dividiu entre antes do diagnóstico e depois do diagnóstico. Depois do diagnóstico, um misto de alívio e redenção tomaram conta de mim. Ao mesmo tempo, a vida virou uma confusão e eu não podia me dar ao luxo de ficar com depressão. Era muita coisa para fazer e se preocupar. Muitas cobranças minhas e de terceiros. E eu sem saber o que estava fazendo mas tendo que fazer.

    Além disso, eu estava no meio de um projeto importante no trabalho, o Satoru também trabalhava praticamente 24x7. Então fazíamos tudo na hora do almoço, à noite ou no final de semana. A vida era completamente descontrolada. Eu tinha que lembrar que tinha que respirar, chorar, dormir. Era uma loucura! Foi uma época muito difícil.

    Nesta mesma época, descobri que, embora eu não concordasse, eu não tinha controle de nada mesmo. E que se eu ficasse sofrendo porque não conseguia ir à ginástica, orientar a empregada, organizar a casa do jeito que eu gosto ou ter uma refeição de qualidade, eu ia morrer bem antes do que eu imaginava. Fiquei com muito medo de adoecer. Também fiquei ansiosa, triste e morri vários dias. Um dia, fazendo a unha, percebi que era um momento muito meu; e eu conseguia respirar. E percebi também que se eu marcasse a unha toda semana, no mesmo horário, eu me sentia bem. Era como se eu tivesse certo controle da vida. A vida era totalmente corrida, sem tempo para nada, descontrolada; mas eu mantinha a meia-hora da unha sagrada. Era meio fútil. É verdade. Mas era a única coisa que me dava sensação de certo controle.

    Muitos anos depois, conheci o projeto máscara de oxigênio (oxygenmaskproject.com), através do blog Lagarta Vira Pupa (www.lagartavirapupa.com.br) – que diz exatamente isso. Se você precisa cuidar de alguém, você precisa primeiro cuidar de você. Sabe aquela história, primeiro vista a máscara em você, depois ajude o outro? Foi mais ou menos assim comigo. Ah, e mantenho o horário da manicure até hoje.

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  2. É Elaine, a luta nunca termina, a gente só adapta a nossa vida para realidade.
    Este projeto máscara de oxigênio é a mais pura verdade.
    Parabéns por manter o horário da manicure.

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